Quem
é esse enigmático homem,
singular
e simbiótico,
aberto
e incorruptível,
conceituado
e indefinível,
tão
simples e apoteótico,
que
nem os ásperos reveses
da vida o consomem?
Que
se extasia diante da Beleza,
inefável,
perene do Universo,
e
joga toda a Luz da Natureza
no
bojo cristalino do seu Verso?
Que
ameniza a eterna sede
na
melodia dos arrozais,
nos
rumores dos regatos,
nos
gorjeios e em tudo mais
que
como ele são,
na
singeleza, irmãos natos?
E
que voa a imensa altura
auscultando
outras canções
e
se deleita nas traduções
dos
Clássicos da Literatura?
Quem
é?
Quem
é esse homem excepcional,
autêntico
e lendário,
fabuloso
e sincero,
que
já fora um guloso “ledor de dicionário”,
e mais tarde lê Virgílio, lê
Horácio, lê Homero,
lê
Ovídio e lê Cícero...
no
original?
Que,
sendo cosmopolita,
é
imensamente caseiro,
e
nas leituras se habilita
a
esquadrinhar o mundo inteiro?
E
que muitos, assim também,
sem
ao menos tê-lo visto
já
o têm muito benquisto
apenas
pela palavra:
a
que outros lavram dele
ou
a de sua própria lavra?
Quem
é esse homem,
provincial
e poliglota,
patriota
e universal,
que
reclama o nosso verde
da
bandeira nacional,
um
sempre verde de restinga,
profuso
e firme de folhagem,
que
nada o extinga ou turbe...
um
verde equatorial!
E
que leva na bagagem,
do
campo para a urbe,
um
pedaço da caatinga
ao seu quintal?
Que,
dispondo de mente rara,
humildemente
se declara
com
a humana espécie
um espantado!
Enquanto
seu alunado
oh!
como folga e agradece,
orgulhoso
e feliz!
Que,
decerto, nem atina
que
seu mestre, por um triz,
não
seguiu a medicina?
Quem
é mesmo esse homem,
ponderado
e de imensa fé,
que
proclama Dom José
o
seu grande salvador,
e
afirma que professor
nada
ensina a ninguém,
enquanto
médicos, engenheiros,
escritores – seus herdeiros –
homens
cultos, assinalados,
apregoam,
penhorados,
a
gratidão e o carinho que lhe têm
pelas
luzes e os rumos apontados?
Eis
um homem superior,
cujo
luxo é a leitura
e
o saber que compartilha...
E,
por sua envergadura,
toda
a gente em derredor
se
entusiasma, e cresce, e brilha!
Cada
dia de sua vida
é
um lúcido arrebol,
que
desperta e evangeliza,
que
orienta a quem o visa
qual
lucífero farol!
Cada
ano de sua vida
é
perfeita harmonia,
é
sublime poesia,
é
fulgente liturgia,
envolvente
e penetrante,
que
ao êxtase da alma nos convida,
como
rara e inebriante sinfonia!
Entre
ponto e contraponto,
neste
espírito binário,
interrompo
este meu hino
(que
jamais estará pronto)
ao
nonagésimo aniversário
deste
ser honrado e útil,
de
caráter inconsútil,
de
estro e inspiração que nunca somem,
para
muitos, espantoso,
para
outros, misterioso,
que,
perplexos, se perguntam:
quem é esse homem?
quem é esse homem?
Pedro Magalhães