segunda-feira, 28 de outubro de 2013

HOMENAGEM AOS 90 ANOS DO PE. OSVALDO CHAVES



         NONAGÉSIMA SINFONIA

Pedro e Padre Osvaldo

                      Ao Padre Osvaldo Chaves


       Quem é?
Quem é esse enigmático homem,
singular e simbiótico,
aberto e incorruptível,
conceituado e indefinível,
tão simples e apoteótico,
que nem os ásperos reveses
                   da vida o consomem? 

Que se extasia diante da Beleza,
inefável, perene do Universo,
e joga toda a Luz da Natureza
no bojo cristalino do seu Verso? 

Que ameniza a eterna sede
na melodia dos arrozais,
nos rumores dos regatos,
nos gorjeios e em tudo mais
       que como ele são,
na singeleza, irmãos natos?
E que voa a imensa altura
auscultando outras canções
e se deleita nas traduções
dos Clássicos da Literatura? 

Quem é?
Quem é esse homem excepcional,
autêntico e lendário,
fabuloso e sincero,
que já fora um guloso “ledor de dicionário”,
e mais tarde lê Virgílio, lê Horácio, lê Homero,
lê Ovídio e lê Cícero...
                                          no original? 

Que, sendo cosmopolita,
é imensamente caseiro,
e nas leituras se habilita
a esquadrinhar o mundo inteiro?
E que muitos, assim também,
sem ao menos tê-lo visto
já o têm muito benquisto
       apenas pela palavra:
a que outros lavram dele
ou a de sua própria lavra? 

Quem é esse homem,
provincial e poliglota,
patriota e universal,
que reclama o nosso verde
da bandeira nacional,
um sempre verde de restinga,
profuso e firme de folhagem,
que nada o extinga ou turbe...
um verde equatorial!
E que leva na bagagem,
do campo para a urbe,
um pedaço da caatinga
                          ao seu quintal? 

Que, dispondo de mente rara,
humildemente se declara
com a humana espécie
                      um espantado!
Enquanto seu alunado
oh! como folga e agradece,
orgulhoso e feliz!
Que, decerto, nem atina
que seu mestre, por um triz,
não seguiu a medicina? 

Quem é mesmo esse homem,
ponderado e de imensa fé,
que proclama Dom José
o seu grande salvador,
e afirma que professor
nada ensina a ninguém,
enquanto médicos, engenheiros,
escritores  – seus herdeiros –
homens cultos, assinalados,
apregoam, penhorados,
a gratidão e o carinho que lhe têm
pelas luzes e os rumos apontados? 

Eis um homem superior,
cujo luxo é a leitura
e o saber que compartilha...
E, por sua envergadura,
toda a gente em derredor
se entusiasma, e cresce, e brilha! 

Cada dia de sua vida
é um lúcido arrebol,
que desperta e evangeliza,
que orienta a quem o visa
qual lucífero farol! 

Cada ano de sua vida
é perfeita harmonia,
é sublime poesia,
é fulgente liturgia,
envolvente e penetrante,
que ao êxtase da alma nos convida,
como rara e inebriante sinfonia! 

Entre ponto e contraponto,
neste espírito binário,
interrompo este meu hino
(que jamais estará pronto)
ao nonagésimo aniversário
deste ser honrado e útil,
de caráter inconsútil,
de estro e inspiração que nunca somem,
para muitos, espantoso,
para outros, misterioso,
que, perplexos, se perguntam: 
                            quem é esse homem?
 
                   Pedro Magalhães



 

domingo, 27 de outubro de 2013

HOMENAGEM AOS 90 ANOS DO PE. OSVALDO CHAVES


    PADRE OSVALDO CHAVES 

Ele é o cantor da geração futura,
Pe. Osvaldo, ao centro
O redentor do grito da garganta:
Ídolo, que lá fora se agiganta,
E que a Granja dos Séculos procura. 

Ele irradia a singeleza pura,
Tanta firmeza e sapiência tanta
Que, ao invés de intimidar, encanta,
O padre, o mestre amigo da cultura. 

Para vê-lo suspendo compromisso,
Sem pena, que seu estro, de espontâneo,
É aula, é festa, é música! E por isso 

Proclamo, nestes versos oportunos,
Meu orgulho de ser seu conterrâneo
E inveja dos que foram seus alunos!
 

                          Pedro Magalhães
                          Granja - CE

domingo, 30 de agosto de 2009

SAI 3ª EDIÇÃO DE DOLENTES - ALELUIA!


       Enfim, depois de várias promessas, DOLENTES, do poeta granjense Lívio Barreto, é reeditado.
A 1ª edição deu-se em 1897, pelo amigo do poeta Waldemiro Cavalcânti, que a fez atendendo a um modesto pedido seu:

        “O meu livro não tem prólogo e não tenho bem a quem me dirigir pedindo-o, senão a V., que pode com franqueza dizer o que ele vale; assim peço-lhe que continue a sua penitência apresentando esse pobre defeituoso à vida que o espera. A mim e a ele honrarão sobremaneira quaisquer palavras que haja de escrever em suas primeiras páginas. "


        A 2ª edição aconteceu em 1970, comemorativa dos 100 anos de nascimento do poeta, pela Secretaria de Cultura e desporto do Ceará.
Em 1995 - centenário de morte do iluminado simbolista granjense - frustrando várias espectativas, nada aconteceu. Nada.
         Só agora, em 2009, sai a tão esperada 3ª edição de Dolentes, pela Secretaria de Cultura do Ceará. Boa, porém com algumas falhas gráficas, e ainda queremos resgistrar aqui uma outra falha, que ainda poderá ser corrigida: sendo o berço do ilustre cearense, a Granja deveria ter sido contemplada com uma substanciosa partida de exemplares do livro. A Biblioteca Pública do Município recebeu apenas 2 exemplares da obra. Isso é muito pouco. Dois mil livros seriam o ideal para que se fizesse uma boa divulgação da importante obra de Lívio Barreto.
            De qualquer forma, estamos de parabéns, pelo fato da reedição.

Para conhecer, na íntegra, a vida e obra de Lívio Barreto,
entre no endereço abaixo:




domingo, 16 de agosto de 2009

ARTESÃO DE SI - LIVRO DE LIRA DUTRA

Adicionar legenda
No dia 18 de julho de 2009, o Instituto José Xavier, Granja-CE, publicou o livro de poemas ARTESÃO DE SI, de José Lira Dutra.
É uma bela coletânea em que o autor utiliza a poesia como um instrumento de transformação social e como uma sonora lira com que canta o amor à terra natal.
Com textos concisos e quase sempre abstratos, o Artesão de Si nos surpreende, a cada página, com flagrantes do belo fundido e confundido à margem da marcha existencial, colhido apenas por olho de artista, de quem sabe ver/viver/reviver.
O título - Artesão de Si - está profundamente relacionado à profissão de ourives do autor, mas também revela a consciência e a modéstia de quem está se construindo, se modelando, se lapidando... Um bom título!

O poeta avisa, na apresentação do livro, que "Se o(a) leitor(a) busca o lirismo, a métrica ou algo próximo, tenha por certo o desapontamento." Entretanto, podemos encontrar na obra belos poemas de suaves lirismos, como este que segue:

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ÚL TIMA NOITE DE MARÇO

Hoje a noite está bela, mais bela que outras passadas noites
O céu vago de estrelas tem cheiro de terra molhada
As estrelas estão de portas batidas, enroladas na rede
celestial, sonhando ao canto da chuva que desfia inclinada
pela leveza da brisa que vem do rio Coreaú.
As luzes e a chuva e o céu sem lua alegram a Vereador
Inácio Barcelos com tons amarelados. Eu gosto do amarelo.
Eu gosto da chuva. Eu gosto do céu sem lua. Eu gosto da
rua Vereador Inácio Barcelos com chuva mansa cantando
no telhado.

Enquanto afogo os pés nas tímidas correntes formadas na
rua
Enquanto navego planos em barquinhos de papel
na chuva desfiada do céu sem lua
Pessoas correm, disputam morada em guarda-chuva
Parecem não querer os tons amarelados da noite
Bela perfumada de mormaço
da última
chuva
de
março.

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Artesão de Si é uma boa opção de
leitura. É só ir ao IJX e adquirir a obra.
PARABÉNS, LIRA, PELA ESTREIA NO MUNDO DAS
LETRAS.


sexta-feira, 3 de abril de 2009

CARTA DE DRUMMOND A UM GRANJENSE



.....Rio de Janeiro, 25 de agosto 1974.

.....Prezado Lívio Xavier,.
.....
Seu livro de recriação do tempo e do ambiente da sua infância teve em mim um leitor interessado e encantado. Por sermos da mesma geração, o que se passou no Ceará do começo do século toca bastante minha memória sensitiva. Fui desde menino um leitor esfomeado de jornais, e acompanhei, com a ignorância dos meus 10-11 anos, a queda dos Acciolys e o governo fugaz de Franco Rabelo, de que a “Gazeta de Minas” dava notícias sob grandes títulos na 1ª página. De resto, um pouco de estilo de viver era comum a todo o País, e os costumes familiares do seu Estado não diferiam muito dos da minha terra. Finalmente, fui, como você e Berenice (amiga a quem muito quero) titular da “Economizadora Paulista”, e acabei liquidando os meus “coupons” que, dada a inflação, perderam o valor... Mas, independente de tudo isso, “Infância na Granja” me agradou pelo que vale como reconstituição do meio social, com isenção e senso de humor.
.....Grato pela oferta do volume, abraça-o cordialmente, com admiração, o

.....

      Esta carta foi enviada pelo magistral poeta Carlos Drummond de Andrade ao granjense Lívio Barreto Xavier, depois que este se fixara em São Paulo e se tornara um jornalista e crítico literário respeitado, a ponto de ser chamado de mestre pelos colegas de trabalho. Lívio publicou alguns livros. É sobre um deles (Infância na Granja) que o poeta mineiro fala.
.....Que maravilha ler Drummond, principalmente quando se refere a um conterrâneo! Afinal, não é qualquer brasileiro que tem em seus alfarrábios uma carta recebida do famoso itabirano.

UM POEMA DE ANTÔNIO EVARISTO*


QUEM SOU EU?

Eu não sou o que vês constantemente
Nesta rotina de mediocridade.
Eu sou outro, bem sei, sou diferente,
Ninguém jamais me viu a identidade.

Porque não sou um só. Sou vários eus:
O que sonha, o que ri , o que blasfema...
Eu sou aquele que não crê em Deus
E o outro que O exalta num poema.

Sou bruto qual o homem das cavernas
E terno e meigo como um passarinho.
Creio que as coisas todas são eternas...
Depois, em nada creio. Sou mesquinho.

Quem sou eu, afinal? Qual o meu nome?
Nem eu nem tu jamais responderemos.
Esta pergunta enorme nos consome...
Eu sou milhões de EUS... não morreremos.


*Este belo poema é de Antônio Evaristo da Paz Sá, granjense,
residente no Rio de Janeiro.

A pintura acima é "Operários" - Tarsila do Amaral